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Feng Shui: origem, diferentes abordagens e sistemas

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O Feng Shui, como outras artes taoistas, tem sua origem na experiência dos Fang Shih, mestres xamânicos que surgiram na China oriental por volta de 200 a.C., e que, por sua vez, desenvolveram suas próprias práticas sobretudo a partir da Teoria dos Cinco Elementos elaborada por Tsou Yen (325 AC), filósofo da Escola Naturalista, estudioso do Yin-Yang.

Ascetas e curandeiros errantes que buscavam a imortalidade e o cultivo da espiritualidade, os Fang Shih eram especialistas em várias formas de adivinhação, tais como astrologia e I Ching, além de praticarem procedimentos de cura, experiências fora do corpo e outros aspectos da prática xamânica, como a medicina, a clarividência, o exorcismo e a magia.

Os Fang Shih e, depois, os praticantes das artes taoistas mantiveram a tradição do refinamento espiritual através da alquimia e da meditação, assim como a prática das artes divinatórias como uma forma de apreciar o fluxo incessante da mutação e aperceber-se diretamente da interdependência de todas as coisas.

Na sua essência, a prática do Feng Shui surge da constatação da influência que o meio ambiente (energia do lugar) exerce sobre a vida das pessoas, e da consequente busca pelos lugares cuja energia favorecesse a meditação e/ou a cura. Ao longo do tempo, a observação e identificação sistemáticas desta influência levou ao desenvolvimento de diferentes técnicas voltadas ao estudo da qualidade de lugares favoráveis aos vivos (Yang Zhai, o estudo da casa dos vivos), e aos mortos (Yin Zhai, o estudo da casa dos mortos, ou sepulturas).

Pode-se considerar que existem duas diferentes linhas de abordagem no estudo do Feng Shui: a que privilegia o estudo das energias visíveis, e que forma o conjunto das chamadas Técnicas do Relevo; e a linha que se debruça sobre o estudo das energias invisíveis, mais tarde denominadas Técnicas do Mistério.

Identificada como instrumento de poder pelos senhores feudais, a prática do Feng Shui se manteve restrita aos Fang Shih, que foram introduzidos na corte, onde chegaram a ter grande influência. Mesmo os Fang Shih que permaneceram independentes mantiveram suas técnicas em segredo, inclusive sob ameaça de morte.

Mais tarde, já na época do império, sob as ordens de Huang Di, o Imperador Amarelo, os conhecimentos relacionados ao Feng Shui foram classificados e estruturados segundo dois grandes sistemas, sendo que a abordagem através do estudo do Relevo manteve-se constante e de alguma forma presente em todas técnicas e dentro de ambos os sistemas.

Um dos objetivos desta estruturação seria a identificação de diferentes níveis de eficiência das várias técnicas de Feng Shui, visando manter a exclusividade do uso das técnicas mais eficientes em benefício do imperador/império. Simultaneamente seriam liberadas, para uso popular, algumas outras técnicas que não chegassem a colocar em risco o poder central, mas que trouxessem vantagens concretas à população e, assim, diminuissem a pressão popular pelo acesso aos benefícios da prática do Feng Shui.

Desta reforma surgiram o Sistema San Ho (“União de Três”), versão popular do Feng Shui, um conjunto de técnicas baseadas nos Doze Ramos Terrestres, na Astrologia popular chinesa dos Doze Animais e no Princípio da Triangulação; e o Sistema San Yuan (“Três Princípios e Nove Exercícios”), versão erudita do Feng Shui, cujas técnicas utilizam o Calendário dos Três Princípios e Nove Exercícios, também conhecido como Calendário do Ciclo Sexagenário, a Astrologia Polar Chinesa, e o I Ching, especificamente o estudo do He Tu (Yin-Yang e Cinco Elementos), do Luo Shu (quadrado mágico de 3 x 3), dos Trigramas do Céu Anterior e do Céu Posterior, dos 64 Hexagramas e das 384 Linhas.

O Sistema San Yuan permaneceu com seu uso restrito a alguns praticantes, e seus mestres mais tradicionais começaram realmente a compartilhar alguns textos para publicação (mesmo dentro da China) apenas desde a última metade do século passado.

Maria João Bastos