O que faz o I Ching dar certo? As pessoas conseguem compreender que o I Ching reflete todo o ciclo da natureza, a dinâmica do universo, o homem? As pessoas conseguem aceitar o ciclo dos 64 Hexagramas representando o Universo, mas têm dificuldade de entender que as moedas, as varetas, os números, os dados astrológicos ou os sinais externos façam com que se desvende o exato momento daquela circunstância. Jung criou o conceito de sincronicidade. Como é que isso é visto de forma original? O que faz com que, quando você jogue uma moeda, por exemplo, saia uma resposta certa e não saia uma outra qualquer? Não poderia sair qualquer uma?
Nós entendemos que, embora no Universo existam infinitas formas de vida e de coisas e que cada uma tem uma aparência ou um aspecto diferente do outro, existem também situações, coisas, histórias e culturas diversificadas. Mas, embora haja essa diversificação de infinitas coisas, todas elas portam dentro de si uma essência. Uma essência comum, um princípio comum de todas as coisas. Por exemplo: você tem pessoas morenas, louras e ruivas, mas todas têm cabelos. As cores podem ser diferentes, mas o cabelo continua sendo cabelo. Do mesmo modo, você pode dizer que, embora exista um infinito tipo de manifestações, todas as manifestações – e cada manifestação – existem em uma essência, que é comum e universal entre todas as coisas. Essas essências se constituem em forma de código; e códigos poderiam ser decifrados. E são essencialmente representados por números. Portanto, pode-se dizer que a estrutura matemática, a estrutura numérica das coisas, é exatamente a essência comum do todas as coisas. Todos os povos sabem contar de um a dez. Embora cada um conte de um a dez de modo diferente, usando uma língua diferente ou escrevendo de modo diferente, o 1 (um) de um povo e o 1 de outro povo continuam sendo o mesmo 1. E é através desses códigos essenciais que comungam todas as coisas que o I Ching atua. Usando moeda, através do jogo com moedas, obtemos os números. Usando qualquer outro sinal, também é assim. Conseguindo extrair o código numérico de uma situação, pode-se decifrar aquela situação. Extraindo o código numérico de um objeto, pode-se deduzir a natureza daquele objeto. E assim, extraindo o código numérico que envolve a vida de uma pessoa, pode-se decifrar a vida daquela pessoa. Então, o Oráculo é um processo que, por meio de algum tipo de jogo, nos remete ao Princípio Comum, à Essência de todas as coisas. Depois, através dos conhecimentos fisiológicos do I Ching, nós reinterpretamos esse código e o transferimos para o mundo real e acabamos decifrando o mistério.
Tem uma parte da pergunta que fica sempre misteriosa… O que faz com que as moedas caiam de uma maneira e não de outra? Existe alguma magia? O que faz essa ligação entre um jogo que parece puramente aleatório com a dinâmica do real?
Ele é aleatório e ao mesmo tempo não é. Todos os acontecimentos da vida e do Universo estão correlacionados. Então, sob esse ponto de vista, não existe nada aleatório, embora sejam manifestações naturais e espontâneas. Se você pegou uma moeda, jogou e caiu de uma determinada maneira, esse modo que ele caiu é o natural. Você pode perguntar: poderia cair de um outro jeito? Poderia, mas não caiu. Portanto, caiu aleatoriamente, mas caiu de um determinado jeito. Nesse sentido, é aleatório sim. Poderia ter caído de outro jeito, mas foi cair do jeito que caiu. Então, o jogo deixa de ser aleatório. Ele é natural. Muitas vezes nós confundimos aleatório com uma coisa espontânea, natural. Nós, muitas vezes, achamos que não é aleatório tem de ser algo mentalmente premeditado ou racionalmente construído. Mas, na verdade, não. Todas as coisas que nós comumente chamamos de aleatório são naturais, feitas com naturalidade. Por exemplo: ‘Ah, levantei aleatoriamente, peguei uma camisa azul, botei no corpo e saí’. Na verdade, essa condição aleatória significa que a camisa foi pega naturalmente. E, se é natural, não é aleatório. Você pode não ter uma pré-meditação racional, mas teve uma consciência do ato de pegar aquela camisa e vesti-la. Portanto, não se trata de uma atitude aleatória. Ela é natural. E o Oráculo é exatamente isso. Usa esse processo natural para extrair a informação. Já que nada é aleatório e tudo é natural – e num processo natural essas coisas estão interligadas e correlacionadas – entrar num ponto da correlação do Universo é entrar na própria estrutura do Universo. Ao entrar na estrutura do Universo, se desvenda o Universo através daquele ponto. Isso é como se você quiser tirar uma gota de sangue para fazer o exame de sangue de uma pessoa. Você tira essa gota em qualquer um dos dedos, na mão, no pé, na cabeça, na perna, e, de qualquer modo você consegue, através daquela gota, obter informações essenciais e necessárias através da análise do sangue. Do mesmo modo, através de um gesto, você consegue chegar à totalidade da vida, à essência da vida. Essência da Vida é como se fosse a análise do sangue. Pode-se tirar o sangue aqui ou ali e o resultado do exame será o mesmo. Portanto, o Oráculo não precisa ser radicalmente jogado de um modo ou de outro. Se você compreender essa essência, tudo é Oráculo. E em qualquer canto você consegue extrair a informação que precisa para a análise que será posteriormente interpretada e diagnosticada para responder a sua pergunta, sua dúvida e resolver o seu problema.
Wu Jyh Cherng,
in Tao do Taoismo n16