Ao materializar uma construção produzimos, simultaneamente, algum tipo de subtração ao espaço maior onde ela se insere: a construção ocupa um espaço que antes estava disponível e que passa a ser um espaço interno (da construção) ou simplesmente um espaço ocupado e, portanto, indisponível.
A esta parte do espaço maior subtraído pela existencia de uma construção vou chamar de “espaço construído”…
Nas construções destinadas à habitação, por exemplo, o controle efetivo da permeabilidade entre o espaço construído e o exterior foi a razão primeira da sua própria existência, já que o valor e a utilidade da construção seriam, basicamente, a existência de espaço vazio que abrigasse e protegesse o morador de agentes externos, fossem eles animais, outras pessoas ou até circunstâncias naturais como condições climáticas extremas.
Hoje em dia o benefício da possibilidade de abrigo e proteção oferecida pelo espaço construído aparentemente perdeu seu valor útil, diluído no meio de inúmeros outros atrativos, em especial os relacionados ao valor econômico, de tal forma que a própria utilidade do espaço construído, que é sobretudo a possibilidade de ser ocupado (o espaço vazio), passou a segundo plano…
Assim, ao observar uma construção, muitas vezes nos deixamos encantar por seus aspectos materiais, que a identificam formalmente, em detrimento da avaliação criteriosa dos seus “vazios” – os espaços propriamente ditos, que se apresentam segundo diferentes potenciais qualidades e possibilidades de ocupação.
“Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda:
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo;
A argila é trabalhada na forma de vasos:
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto;
Portas e janelas são abertas na construção da casa:
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa.
Assim, da existência vem o valor
E da não existência, a utilidade.”
Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, Capítulo 11
Ed. Mauad X