Eu posso observar uma construção e perceber “o que há” nela: paredes, pisos e coberturas que, como planos de corte, separam o que antes era integrado e contínuo, criando “dentro” e “fora”. Constatar que sua existência produz uma alteração na possibilidade de atravessar ou ocupar o espaço original anterior à construção, tanto “fora”, quanto “dentro” da mesma…
Eu posso examinar uma edificação e descobrir “o que não há”: os espaços vazios passíveis de serem percorridos e ocupados. A estrutura ordenada segundo a qual esses espaços vazios se apresentam e permitem acesso e/ou conexão, assim como as suas diferentes possibilidades de ocupação, me revelam uma potencial utilidade hierarquizada dessas suas partes vazias…
Eu posso ponderar sobre uma construção e inferir que, a partir de determinado momento de sua edificação, ela “sequestrou” uma parte do espaço maior onde se insere e que, com isso, capturou para si uma série de características energéticas relacionadas àquele único momento e lugar do nosso planeta…
Eu posso usufruir do espaço de uma construção e notar que ele me “impressiona” de forma diferente de outras construções; que ele me “impressiona” de formas diferentes segundo épocas diferentes de minha vida; que ele me “impressiona” de formas diferentes segundo as diferentes formas de utilização que determino para ele.
Eu posso me observar na relação que tenho com as construções e descobrir que algumas passam desapercebidas e “nem existem” para mim; outras me encantam, ou me incomodam, ou simplesmente “estão ali”; algumas são palco da minha experiência de vida, por vezes esporadicamente, por vezes durante longo período; a minha relação com elas às vezes é ininterrupta enquanto dura, outras é cíclica e alternada.
Conhecimento de espaço-tempo para mim é como a experiência de subir uma escada em caracol onde a luz incide de cima: cada degrau que subo muda meu ponto de vista, transforma toda a circunstância e aumenta a claridade.
Maria João Bastos
Muito bom!!!!!!!!!!!
Obrigada, Maria do Carmo!