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Feng Shui x Ciência

Recentemente fiz uma consulta oracular ao I Ching Flor de Ameixeira, com o objetivo de me debruçar sobre a questão “Feng Shui Tradicional x ‘Ciência’ (no sentido ocidental da palavra)”. Tinha acabado de ler um trabalho acadêmico sobre a origem do Feng Shui[1] e o ponto de vista do autor me surpreendeu (confesso!) favoravelmente.

Nesse ensaio, Stephen L. Field, professor de Língua e Literatura Chinesa da Trinity University (Texas – USA), pesquisador interessado em Feng Shui Tradicional, declara que Feng Shui não pode ser considerado uma ciência, nem uma religião, e nem uma filosofia, restando, portanto, a possibilidade de ser considerado uma arte.

Field observa ainda que, “sob o ponto de vista estético[2] do mundo, não precisamos necessariamente julgar a realidade de um fenômeno para conseguirmos tirar partido dele”, (…) e afirma que “princípios de ordem racional não deveriam ser os únicos a determinar o valor da nossa apreciação, mas antes o grau de satisfação de nossa responsabilidade quanto à ordem ética”.

Estas declarações de Field sobre princípios de diferentes ordens de apreciação imediatamente me levaram a pensar sobre o conceito de Retidão subjacente às práticas taoistas, e sobre os diferentes critérios de validação dos igualmente diferentes saberes… São questões frequentes com as quais me deparo, como consultora de Feng Shui… Este é um tema polêmico, contundente e, dentro do contexto dos Cinco Movimentos do Yin e do Yang (Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água), de natureza claramente metálica, ou seja, relacionado a um movimento introspectivo, à síntese, à qualificação, ao valor, ao critério, ao rigor, à ordem, enfim, à lei…

E o Oráculo ofereceu a seguinte resposta:

Oráculo Feng Shui x Ciência

A questão focada na consulta se expressa através do hexagrama principal A Conduta, formado pelo Trigrama Céu (Metal), a naturalidade, a ordem cósmica, a atividade constante, sobre o Trigrama Lago (Metal), a alegria, a serenidade (água parada), o que reflete o Céu. É como se, tanto o Feng Shui como a ‘Ciência’, fossem, ambos, reflexo (Lago) da ordem cósmica (Céu).

O texto do julgamento do Hexagrama A Conduta diz: “pisando a cauda do tigre, e não sendo mordido. Boa fortuna”.

“Pisar na caude do tigre” é, sem dúvida, uma situação arriscada! O Céu é infinitamente maior do que o Lago e, portanto, a empreitada (refletir o Céu) carece de cautela e consciência.

No caso, o resultado da empreitada dependerá da Sabedoria (divindade despertada nesta consulta) para distinguir entre o que está acima e o que está abaixo – a Imagem do hexagrama diz: “Céu acima e Lago abaixo. O homem superior utiliza a distinção entre o elevado e o inferior para trazer paz a seu povo”.

Penso eu que esta necessidade de cautela para distinguir o que está acima do que está abaixo pode ser devida, por exemplo, ao perigo de confundir o Céu com seu próprio reflexo – daí a necessidade da consciência (humildade, moderação e centramento), que possibilitam a docildade (ser fiel à sua natureza de Lago) necessária para captar e refletir o Céu sem intenções (com a própria Naturalidade do Céu).

A linha despertada do hexagrama é a útlima, a linha do heremita, do sábio, aquele que saiu da esfera mundana, que transcendeu o ego… Seu texto adianta: “Contemple os resultados de sua conduta. Quando tudo estiver completo virá suprema boa fortuna”. Ou seja:

Ao final da empreitada (refletir o Céu), o sábio pode olhar para trás e avaliar objetivamente (sem ego) sua conduta, para ver se concluiu sua obra (se realizou o que tinha potencial para fazer).

Segundo o Oráculo, a solução da questão “Feng Shui Tradicional x ‘Ciência’” é atingida satisfatoriamente através do processo de compreensão de que em toda e qualquer Família existe lugar para cada um dos seus membros, e que cada um de seus membros deverá reconhecer e ocupar seu devido lugar na respectiva família. Desta forma haverá paz e se experimentará a Alegria, expressão do contentamento e do diálogo entre diferentes pessoas (troca de experiência).

Deve ser este o contentamento de que Stephen Field fala, especificamente sobre Feng Shui, ao terminar seu ensaio: “A mera percepção de um sistema integrado funcionando no nosso meio ambiente de acordo com os princípios estéticos do Feng Shui é o suficiente para satisfazer a mente do observador”.

…E eu concordo!

Maria João Bastos