
Espelho de bronze chinês da dinastia Tang decorado com dragão – Museu de História da Província de Shaanxi
Na China antiga, para conseguir observar a própria imagem, originalmente fazia-se uso da reflexão da luz sobre a superfície da água. Mais tarde começaram a se utilizar espelhos artificiais, produzidos a partir da fundição do bronze.
Foram encontrados objetos de bronze fundidos na China pelo menos desde 2750 a.C., bem antes, portanto, da produção local de vidro, introduzida ao final da Dinastia Zhou (1046 a.C. – 221 a.C.).
A tecnologia de fundição do bronze na China antiga floresceu facilitada pela abundância de matéria prima e tornou-se parte proeminente da cultura chinesa, já que, nas suas diferentes ligas, o bronze era o material de que eram feitos não apenas os instrumentos de guerra, mas também os objetos cerimoniais e, portanto, sua produção tinha interferência direta sobre o controle do território e das atividades de ordem ritualística, as duas principais funções do estado.
Apesar disto, os espelhos de bronze não foram inventados pelos antigos chineses, mas introduzidos no território que hoje denominamos China através da cultura Qijia (2.200 a.C. – 1.700 a.C.), ao norte, influenciada pelos povos da estepe da euroásia.
Os espelhos originais eram simples discos circulares refletores, isentos de qualquer decoração, e os mais antigos foram encontrados em túmulos, colocados em cima e ao lado do cadáver, para proteção ao morto. Mais tarde, a aparência dos espelhos evoluiu, mantendo a frente finamente polida, mas a parte de trás passou a ser decorada com figuras simbólicas, no intúito de reforçar seu poder protetor.

Espelho de bronze chinês quadrado da dinastia Tang, com decoração simbólica no verso – Museu de História da Província de Shaanxi
Durante a dinastia Han Ocidental (200 a.C.) começaram a ser acrescentadas à decoração dos espelhos algumas inscrições, como orações ou encantamentos, que buscavam atrair poderes sobrenaturais e trazer boa fortuna para os vivos ou, se colocado em túmulos, para manter afastados os maus espíritos ou as más energias.
São igualmente desta época os denominados espelhos mágicos, ou espelhos translúcidos, que assim eram chamados porque, quando sua face polida era iluminada, pareciam tornar-se translúcidos, e quando o seu reflexo atingia uma superfíie branca, nela projetava, nitidamente, a decoração constante na face oposta. A técnica de produção destes espelhos mágicos foi introduzida no Japão, onde permanece viva.
Inicialmente, os espelhos eram produtos de alto luxo fabricados em pequenas quantidades e destinavam-se a um número restrito de usuários dentro da corte. Durante a dinastia Tang surgiram e proliferaram as oficinas particulares, em oposição às fundições centralizadas do governo, impusionadas pelo poder aquisitivo da classe mercantil crescente.
A produção de espelhos de bronze na China antiga se manteve pujante desde o período dos Reinos Combatentes (475-206 a.C.) até a dinastia Tang (618-906 d.C.), quando continuaram a ser produzidos, embora em menor escala. Durante o período médio da dinastia Qing (1644-1912) os espelhos de bronze começaram a ser gradualmente substituídos por espelhos de vidro, interrompendo uma indústria que permaneceu ativa na China por quase 4000 anos.
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Embora a qualidade energética dos antigos espelhos de bronze seja diferente da qualidade energética dos atuais espelhos de vidro, ou de outras superfícies espelhadas, o poder de reflexão dos espelhos é aproveitado, na prática do Feng Shui tradicional, até os dias atuais, independente do material de que são feitos.
A sua utilização é feita tanto com o objetivo de desviar determinadas energias, portanto com função protetora, como com o objetivo de catalizar outras tantas energias, favorecendo o aumento de probabilidade da manifestação de circunstâncias consideradas favoráveis.
Existem espelhos de diversos materiais e com diferentes características e que servem a diferentes finalidades mas, normalmente, a utilização dos espelhos como instrumentos de proteção é bastante mais frequente, uma vez que depende de cálculos mais simples.
A utilização do poder de reflexão dos espelhos como catalizador de energias requer conhecimentos astronômicos e de cálculo bastante mais complexos, e pode ter efeitos imprevistos e indesejados, caso não estejam corretos… Veja-se, a respeito, a matéria veiculada pela Associated Press no passado dia 03 de Setembro, sobre um prédio em construção na cidade de Londres…!
Maria João Bastos
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Referências
Costello, Susan D. 2005. An Investigation of Early Chinese Bronze Mirrors at the Harvard University Art Museums. Harvard University.
Lothar von Falkenhausen, editor. The Lloyd Cotsen Study Collection os Chinese Bronze Mirrors. Cotsen Occasional Press, UCLA Cotsen Institute of Arcaeology Press, Los Angeles.